Sunday, February 12, 2006

japonesamente falando ?

se há coisa há que sempre me encasquetou no recife foi a proliferação de restaurantes de " comida japonesa ". não vai nisto nenhum complexo do tipo, nordeste tem de ter cara de jabá e putz! final. mas há que se convir que numa cidade onde não há traços de imigração significantes, você encontrar comida japonesa até em fiteiro, não é bom sinal.

shushis e sashimis tomaram de assalto gritando banzai até às churrascarias de quilo. os endereços, para além das indefectvéis franquias de shopping, abundam - até quando vigorará entre nós a prática de que comida de praça de alimentação tem de ter gosto de comida de executiva de avião ? - de forma que é chic ir a um restaurante japonês. contudo, para além da honestidade marcante da quina do futuro - na rua do futuro obviamente, no espinheiro, cujo proprietário depois de tantas vezes assaltado pirou-se para voltar novamente, espero bem que com a mesma disposição, não se tem noticía de algo realmente tocante para além das mexidas nos pauzinhos de alguns que forçam para construir a imagem de não kamikazes.

se você tiver oportunidade, indo ao rio de janeiro, por exemplo, vá ao tem kai - não é tá kai, tá kai é japonês de novela, ou, compare o que estão lhe oferecendo aqui com o que pode se encontrar no tem kai, na entrada da matéria abaixo.

O Ten Kai é japonês para quem entende de hashis . Nada de mexer os pauzinhos na cozinha alheia. É uma espécie de Azumi (o templo dos puristas, em Copacabana) que fica em Ipanema. E o que isso quer dizer? Vamos lá: dos 165 pratos do cardápio da casa, só um leva cream cheese. Unzinho só. Isso é ou não é um sinal? Vamos a outro: não tem foie gras. Se os exemplos acima ainda não foram ilustrativos, aqui vai mais um: a casa conta, de um lado, com uma bancada fria, um clássico sushi bar com peixes frescos para sushis, sashimis e afins; do outro, ficam chapas quentíssimas a postos para receber iguarias como o gyútan, a cobiçada língua de boi grelhada. As duas “praças” da casa são comandadas por profissionais 100% made in Japan . O Ten Kai não aceita imitações, invenções ou interpretações. Vai só de legítima japonesa.



Lá tem nirá com fígado de galinha (R$ 19,50), vagem de soja cozida (R$ 12), camarão doce cru (R$ 17), barbatana de tubarão com água-viva (R$ 18) e ovas em profusão, como a de bacalhau, que atende pelo nome de karashi mentaiko, deliciosamente apimentada 15,50, a dupla). Encantei-me com a (ou seria o?) myoga — não sei se é no feminino ou masculino. Aliás, nem sei direito o que é: só sei que é deliciosa(o). Lembra uma minialcachofra, ou seja, é um vegetal, plantado aqui pela colônia japonesa. Provei ao vinagrete (R$ 17) e em tempura (R$ 24).

O bom gyoza é passado na chapa e chega à mesa quentinho e corado (R$ 18, a porção com recheio de frango, nirá, acelga ou shiitake). A enguia também é aquecida, o que só realça o seu sabor (R$ 19). E no sashimi de salmão rola um delicioso brûlée por cima (R$ 18,50).

A bancada de importados é uma viagem. Quem quiser embarcar nela, basta pedir o Ten Kai Especial, 12 peças só de iguarias delicosamente estranhas (R$ 96). Mas não precisa ir tão longe: a melhor da noite foi a dupla de sushis de... sardinha! Nosso bravo peixinho fisgou o sushiman e caiu na rede do Ten Kai.

Ten Kai: Rua Barão da Torre 667, Ipanema — 2540-5100. Ter a sex, das 19h à 1h; sáb, das 13h à 1h; dom, das 13h à meia-noite. C.C.: Todos.

Ten Kai: enfim, um japa que não aceita imitações pela Luciana Fróes, para O Globo.

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